O concerto de ano novo que a Sociedade Musical de Arcos de Valdevez (SMAV) realizou, no Dia de Reis, na lotada Casa das Artes, terminou em apoteose, com o público a aplaudir a qualidade artística e performativa da famosa banda e dos convidados surpresa.
O espetáculo, de noventa minutos sensivelmente, começou com a escola de música a revelar alguns dos futuros talentos, num gracioso momento de inovação introduzido ao tradicional figurino do concerto. Entre o viveiro da escola juvenil e a entrada em cena do tenor Pedro Rodrigues e do soprano Luísa Barriga, existiu uma segunda parte que foi preenchida com peças alusivas às temáticas da força e do virtuosismo, da aventura e da placidez, preciosos desígnios para forjar um “magnífico 2018”, conforme o desejo do maestro Gil Magalhães.
O concerto da SMAV abriu com a ópera Feria de Julho, do maestro Fernando Bonete Piqueras, peça interpretada pela primeira vez no Certame Internacional de Bandas de Música “Cidade de Valencia”.
O sofisticado repertório incluiu, a seguir, Festival Concert March, do norte-americano James Barnes, “um dos grandes compositores da atualidade para bandas”, na ótica do carismático Gil Magalhães, que foi bastante elogiado pelo presidente da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez.
Banda de Arcos de Valdevez
Posteriormente, a banda arcuense interpretou o primeiro ato (Abertura) da ópera de Guilherme Tell (herói suíço), peça do compositor italiano Gioachino Rossini que é “única”, porque difere tematicamente dos restantes atos, e faz parte do repertório mundial de concertos e gravações de ópera. Para além de contar a história de Tell (que dominava magistralmente a besta, arma muito antiga com a qual se arremessavam setas), esta ópera permite a experimentação de “sabores, cheiros e sons de uma Suíça campestre, como o chilrear de passarinhos e o correr de vacas”, explicou em tom professoral Gil Magalhães.
Com Fantasy Variations (segunda ópera da noite da autoria de James Barnes), houve uma sucessão de elementos/recursos próprios da composição, com dezenas de variações sobre o mesmo Capricho (pequena peça que mostra a habilidade técnica e expressiva de cada músico) de Niccolò Paganini. Através do Capricho n.º 24 (“o mais conhecido e, talvez, o mais tocado” deste compositor e virtuoso violinista italiano), o público teve ensejo de conhecer “a banda por dentro e todos os naipes da mesma (trompete, oboé, fagote, trompa, flauta…)”, graças a uma interpretação que misturou a “força lindíssima” com a “exploração de elementos melódicos” deste Capricho, “que não é assim tão melódico quanto isso”, notou o maestro portuense de 43 anos.
Banda de Arcos de Valdevez
De seguida, os quase setenta executantes da banda interpretaram a peça Expedition, “uma viagem à Antártida com aventuras, sustos, icebergs e… um regresso em paz”, contextualizou Gil Magalhães.
Para surpresa do caloroso público, o concerto teve uma terceira parte, com o tenor Pedro Rodrigues e o soprano Luísa Barriga a serem conduzidos até ao palco, em separado, pelo maestro da banda, para emprestarem a voz às canções Granada (do compositor mexicano Agustín Lara) e Il Bacio, O Beijo (do compositor, maestro e violonista italiano Luigi Arditi), respetivamente.
Por fim, os dois convidados e a banda interpretaram Brindisi (da ópera La Traviata, A Mulher Caída, do compositor italiano Giuseppe Verdi), espécie de brinde final que uns e outros repetiram em palco para soltarem o champanhe, um “extra” que a assistência aproveitou para interagir, entusiasticamente, com os músicos, despedindo-se deles com uma ruidosa salva de palmas.
Ao Minho Digital, o maestro Gil Magalhães realçou o “ambiente muito bom” e a “casa cheia” como consequências da “grande adesão de público” e da “maior proximidade e carinho dos arcuenses pela banda”.
by minhodigital.com, autor Armando Fernandes de Brito