Na estreia do novo maestro, Álvaro Pinto, em substituição de Valdemar Sequeira, a Sociedade Musical de Arcos
de Valdevez (SMAV) promoveu, no passado dia 22 de janeiro, o habitual concerto de Ano Novo, levando ao
palco, da lotada Casa das Artes, um espetáculo eclético, que misturou diversos estilos (música clássica, canção
popular, canto épico, rock…) ao gosto dos diferentes públicos, numa viagem que fez sobressair os vários naipes
da banda arcuense. No derradeiro momento performativo, o público vibrou com a Marcha dos Arcos, culminando
um concerto onde a qualidade artística e a entrega estiveram de braço dado do início ao fim.
O concerto, que fez avultar oito temas populares e eruditos, alguns dos quais com arranjos, abriu, em registo
clássico, com a famosa banda a interpretar a peça El Torico da la Cuerda (Pasodoble), transportando
“experiências e sentimentos que o compositor Luís Serrano Alarcón sente pelo festival popular e colorido das
touradas de verão na sua terra natal (Chiva, Valência)”, anunciou Beatriz Silva, em jeito de apresentação.
A Marcha Eslava, segundo tema do sofisticado repertório, é o resultado de uma encomenda que o compositor
romântico russo, Piotr Tchaikovsky, recebeu, em 1976, para compor uma obra destinada a um concerto de
caridade em ajuda aos soldados vítimas da guerra entre turcos e sérvios (os então soviéticos eram aliados da
Sérvia).
O alinhamento seguinte contemplou dois trabalhos originais escritos para bandas sinfónicas: Gloriosa (Symphonic
Poem for Band), do compositor japonês Yasuhde Ito, e Golden Land (El Racó de L’or), do compositor e maestro
espanhol Saül Gómez Soler. São ambos poemas sinfónicos, o primeiro tem como característica principal o facto
de possuir três momentos (Oratio, Cantus e Dies Festus), enquanto o segundo é dedicado à União Musical El
Xúquer de Sumacàrcer (Valência) e ao seu regente Josep Ros.
De seguida, a banda tocou uma obra ligeira, Deep Purple Medley, com arranjo do compositor japonês Toshihiko
Sahashi, reunindo vários temas daquela famosa banda britânica (pioneira do heavy metal e do hard rock),
nomeadamente “Burn”, “Higway Star” e “Smoke the Water”.
Com Cantigas da Rua (arranjo do maestro, compositor e diretor artístico Jorge Salgueiro), os 67 músicos da
orquestra arcuense interpretaram muitas das melodias em voga no século XX, como “Cantiga da Rua”, “Uma
Casa Portuguesa”, “Vocês Sabem Lá”, “Cartas de Arroz” ou “Cachopa”, fazendo o público reviver temas
marcantes da sua infância ou juventude.
A marcha Hommage (Concert March), do compositor e maestro austríaco Michael Geisler, juntou as várias
classes de instrumentos (ensemble de madeiras e percussão; ensemble de metais e percussão; ensemble de
saxofones e percussão), terminando em ritmo frenético.
Para remate em apoteose, foi tocada a Marcha dos Arcos (de António Branco Pedreira), em que a plateia
aproveitou para interagir com os músicos, despedindo-se deles, de pé, com uma estrondosa salva de palmas.
“O trabalho honesto é o ingrediente principal para o sucesso”
Ao NA, o novo maestro apontou, sem rodeios, o elemento que explica a qualidade performativa da banda de Arcos
de Valdevez. “O trabalho honesto é o ingrediente principal para o sucesso e, quando assim é, as pessoas gostam e
aplaudem, como se viu aqui, hoje [22 de janeiro]. Sem dúvida nenhuma que a SMAV é uma boa banda no
panorama nacional”, reconheceu o portuense Álvaro Pinto, “contente por abraçar o desafio de trabalhar na
SMAV”, Escola de Música (EM) incluída.
A este respeito, o concerto de Ano Novo assinalou, igualmente, o batismo na SMAV de uma fornada de cinco
jovens, oriundos da EM, com diferentes aptidões instrumentais: Maria Isabel Sá (flauta transversal), Diana Pereira
(clarinete), Beatriz Sousa (saxofone alto), Francisco Sousa (saxofone alto) e Tiago Pereira (tenor), todos talentos
que carregam o peso do futuro.
“Esta juventude, mesclada com experiência, é uma das forças da SMAV. Todos juntos, queremos continuar a
trabalhar, de forma séria, para fazer crescer ainda mais a banda”, promete Álvaro Pinto, que nesta primeira
aparição pública optou pela sobriedade em palco.
De facto, para engrandecer (e expandir) o nome do concelho, o harmonioso grupo de executantes tem beneficiado
muito da circunstância de ter na retaguarda, desde longa data, uma estrutura consolidada, superiormente dirigida
por João Costa, incansável na procura das melhores soluções para manter viva a banda fundada em 1880, apesar
de os encargos serem cada vez mais dispendiosos (só um bom fagote custa mais de 20 mil euros…).